A Umbanda vivencia o Evangelho de Jesus em sua essência através da manifestação do amor e da caridade prestada pela orientação dos Guias, Mentores e Protetores que recebem a irradiação dos Orixás. Encontramos no terreiro da verdadeira Umbanda entidades que trabalham com humildade, de forma serena, caritativa e gratuita; espíritos bondosos que não fazem distinção de raça, cor ou religião, e acolhem todos que buscam amparo e auxílio espiritual, conforto para dores, aflições e desequilíbrios das mais variadas ordens.

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domingo, 9 de março de 2014

Umbanda de Preto Velho


Em uma madrugada de quarta-feira, em meio à orla marítima, Pai Benedito preparava-se para o último atendimento fraterno daquela noite.

A lua cheia brilhava esplendorosa no céu quando o perispirito de uma senhora de aproximadamente sessenta anos de idade, mas de mente jovial, sentou-se à frente da entidade.

— Como vai suncê zifia?

— Apesar de preocupada eu até que vou bem, mas qual é o nome do senhor?

— Zifia o nome deste nêgo é Benedito, mas nêgo deve pedir licença a suncê pra dizer que o senhor tá no céu.

— Vovô desculpe-me, mas eu só o chamei de senhor para demonstrar respeito.

— Nêgo véio sabe zifia, mas para que fique tudo certo é que nêgo pergunta: eu também posso tratá-la respeitosamente chamando-a de senhora?

— Ah não vovô, se for possível eu gostaria que o senhor me chamasse apenas de Mercedes.

— Então tá tudo certo zifia: nêgo chama suncê de Mercedes e suncê chama nêgo de Benedito.

Respondendo com um sorriso nos lábios Mercedes disse a entidade:

— Está certo vovô!

— Mas conte pra nêgo o que trouxe suncê até ele minha filha!

— Vovô, veja bem, eu conversei com o meu filho e ele disse que na próxima gira do terreiro ele vai estar sentado lá na assistência.

— Que bom zifia! Muito formoso suncê levar mais um zifio pra conhecer uma das casas de caridade onde nóis trabalha em nome da Umbanda.

— Nem me fale vovô, pois eu não vejo a hora de chegar o dia da próxima gira no terreiro!

— Mas por que tanta ansiedade zifia Mercedes? O filho de suncê tá com algum problema?

— Foi bom o senhor ter tocado neste assunto vovô, por que, na realidade, quem está com um problema sou eu!

— Conta pra nêgo véio zifia!!!

— Bem, é que nos últimos meses eu tenho me sentido muito só lá na casa onde eu vivo com meu filho, minha nora e meu netinho.

— Como assim zifia?

— A solidão que eu sinto é mais por parte do meu filho, que quase não tem tempo para estar comigo. O meu esposo faleceu há poucos meses, mas eu o sinto muito mais presente na minha vida do que o meu filho que eu tanto amo!

— Zifia Mercedes, nêgo inté que entende suncê; só o que nêgo não entende é o porquê da sua ansiedade em que o seu filho vá à assistência do terreiro.

— Olha vovô a minha ansiedade é por que eu não vejo a hora de o senhor conversar com o meu filho Ramon sobre toda esta solidão que eu já venho sentindo há um bom tempo. O senhor poderia fazer isto?

— Zifia antes, por caridade, responde uma coisa pra nêgo.

— Sim senhor!

— Zifia se o seu filho Ramon, ao invés de morar junto com suncê, residisse numa terra bem distante como suncê haveria de fazer pra conversar com ele?

— Bem vovô, eu poderia usar o telefone.

— Telefone?

— É vovô! O senhor não conhece?

— Ver nêgo já viu só que nêgo não sabe como funciona; suncê pode explicar pra ele?

— Certamente vovô! O telefone é um aparelho de comunicação onde eu posso fazer contato com outras pessoas, tanto como emissora quanto como receptora de mensagens.

— Nossa zifia Mercedes esse tal de telefone é mesmo um aparelho muito importante, não é?

— É sim vovô!

— Zifia pelo que este nêgo tá entendendo o telefone é um aparelho que encurta a distância aproximando pessoas, é isto?

— Exatamente vovô!

— Zifia, se uma pessoa que suncê gosta muito e sente muito a falta de comunicação com ela morasse do lado da sua casa suncê ia preferir entrar em contato com ela pelo telefone ou pessoalmente?

— Olha vovô eu preferiria pessoalmente.

— Suncê pode contar por quê?

— Perfeitamente. Para mim nada é mais importante do que o contato pessoal com aqueles que são tão caros ao nosso afeto. O telefone é importante, mas não deve substituir o carinho, a troca de energia e afeto que só o contato pessoal sabe proporcionar inigualavelmente.

— Deixa nêgo ver se entendeu: suncê tá dizendo que o telefone serve para encurtar distâncias em relação às pessoas que estão longe de nós, porque para pessoas que estão próximas nada é melhor do que o contato pessoal é isto?

— Exatamente isso vovô!

— Zifia Mercedes, nêgo véio entende que suncê veio até aqui pedir auxílio, mas, por caridade, será que Benedito pode fazer mais uma pergunta pra suncê?

— Puxa vovô, não precisa nem pedir!

— Zifia, como suncê mesma pode ver este nêgo véio não é muito chegado a beleza, mas mesmo assim ele pergunta: será que Nêgo Dito é tão feio, mas tão feio que parece um telefone?

Completamente atônita Mercedes respondeu:

— Como é vovô?

— Nêgo véio parece um telefone zifia?

— Claro que não vovô! O senhor é completamente diferente!

— Completamente diferente?

— Completamente vovô!

— Então porque zifia Mercedes deseja transformar este nêgo véio num telefone de suncê?

— Não entendo vovô!

— Não é suncê que mora na mesma casa com o seu filho Ramon?

— Sim senhor.

— Ele não lhe é muitíssimo caro?

— É sim senhor.

— E se ele mora na sua casa isso não quer dizer que ele lhe é próximo?

— Exatamente!

— Suncê quer que ele saiba que suncê se sente só em relação a ele, não é isto?

— Exatamente!

— Então por que suncê não aproveita esta oportunidade de ouro que é viver ao lado dele e não lhe diz o quanto a ausência dele a está fazendo sentir-se sozinha, triste, com medo de ser abandonada? Quem é nêgo véio pra substituir suncê no coração do seu filho? Se suncê souber quando, como e o que falar as suas palavras terão muito mais valia no coração do filho Ramon, do que qualquer palavra que este nêgo disser a ele, pois aos olhos daquele zifio nêgo véio seria apenas um telefone.

Talvez seja pelo fato do preto-velho falar das coisas que vão ao coração de um jeito tão humilde, talvez seja pelas palavras daquela entidade terem ampliado a consciência de Mercedes, ou talvez seja mesmo pelo fato dela ter carregado aquele sentimento de abandono por tempo demais dentro do seu ser: a realidade é que nenhuma destas teorias é mais importante do que o pranto transmutador que brotou dos olhos de Mercedes, desafogando o peito dela do medo e clareando o seu mental.

Após alguns instantes, e já se sentindo bem melhor, Mercedes disse a entidade:

— Vovô, o senhor me disse que se eu souber quando, como e o que falar com o meu filho o resultado será benéfico para nós dois, mas como é que eu vou saber o que quando e como comunicar-me com o meu filho?

— Simples zifia: é só suncê fazer um telefonema antes de conversar pessoalmente com o filho Ramon!

— Telefonema? Mas o senhor não acabou de dizer que é melhor falar pessoalmente?

— Este telefonema que suncê vai fazer num é pro fio Ramon!

— Não!?!?

— Não! É pra Zambi-Nosso-Pai!

— Telefonar para Deus? Vovô, o senhor está falando sério?

— Claro zifia Mercedes!

— E como é que se telefona pra Deus?

— Um telefone não serve pra comunicação?

— Sim.

— E como comunicar-se com Deus?

— Ah, entendi vovô! Eu devo fazer uma prece a Deus, não é isso?

— Exatamente zifia!

— Só que eu já fiz inúmeras preces a Deus e até agora não consegui encontrar forças para falar da minha dificuldade com o meu filho, por isto é que eu fui trazida até aqui para falar com o senhor!

— Nêgo véio sabe disto zifia: os filhos de fé são os emissores dos pedidos de auxilio divino, Zambi é o receptor destes pedidos, a oração é o telefone e nós, que suncês chamam de entidades, somos os impulsos telefônicos!

— Pois é vovô a sua definição é, mais uma vez, brilhante em tanta simplicidade, mas o que o senhor quer me dizer, na realidade, é que eu devo fazer mais preces antes de conversar com o Ramon?

— Zifia, por caridade, cite pra nêgo pelo menos dois problemas que podem atrapalhar ou impossibilitar a comunicação num telefonema entre duas pessoas aqui na terra.

— Bem, quando o telefone está mudo isto impossibilita a ligação telefônica; já quando esta é estabelecida os chiados podem atrapalhar a comunicação.

— Muito bom zifia! Foi suncê que acabou de ser brilhante!

— Eu?

— É zifia! Suncê mesma acabou de responder por que não conseguiu forças pra conversar com o seu filho apesar de sua reiterantes rogativas a Zambi.

— Eu respondi vovô?

— É zifia! Suncê até hoje não obteve a resposta de Zambi em relação aos “telefonemas” que suncê faz a Ele por conta das interferências no telefone.

— Não entendi vovô!

— Zifia Mercedes suncê mesma respondeu pra nêgo: quando o telefone está mudo a ligação fica impossibilitada.

— Desculpe, mas ainda não entendi vovô!

— Zifia muitas vezes quando suncê pega o telefone da oração pra fazer rogativas a Zambi ele está mudo e daì Zambi não recebe a mensagem de suncê!

— Quando é que isto acontece vovô?

— Quando sunce, por exemplo, faz a prece, mas se julga imerecedora de receber a benção, nêgo véio tá mentindo?

— Não senhor!

— O fato de emitir a oração com algum juízo de valor é o suficiente, por si só, pra torná-la muda, pois só Zambi-Nosso-Pai pode julgar o merecimento ou não de cada um em suas orações.

— Estou entendendo vovô, mas será que o senhor também poderia contar-me a interferência que faz a minha oração ficar com “chiados” aos ouvidos de Deus?

— Perfeitamente zifia! É quando suncê faz preces com outros desequilíbrios nos campos da fé!

— O desequilíbrio nos campos da fé provoca chiados na oração a Deus: é isto?

— Exatamente, pois a oração é por si só, um ato de fé, não é verdade?

— É verdade, agora estou entendendo Pai Benedito!

— No seu caso, como suncê bem sabe, o desequilíbrio nos campos da fé que produz os chiados em suas orações é originário do medo que suncê tem que Deus lhe dote de forças pra conversar com o seu filho e de que você, depois de conversar com ele, seja tratada de forma indesejada pelo Ramon devido à incompreensão dele.

— Não vou negar o senhor tem razão, é verdade!!!

— Pois então minha filha mudar sua postura, seu estado consciencial, continuar a ter fé em Deus sem duvidar de seu próprio merecimento e capacidade são as condições que farão a qualidade dos seus telefonemas ser a melhor possível aos ouvidos de Zambi-Nosso-Pai, suncê entendeu?

— Sim senhor!

— Então vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai!

— Que assim seja e muito obrigado vovô!

— Nêgo véio é que agradece zifia Mercedes, nêgo veio é que agradece!!!

Mensagem de Pai Benedito recebida por Pedro Rangel.

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A UMBANDA E O EVANGELHO DE JESUS

A Umbanda vivencia o Evangelho de Jesus em sua essência através da manifestação do amor e da caridade prestada pela orientação dos guias e protetores que recebem a irradiação dos Orixás. Encontramos no terreiro da verdadeira Umbanda entidades que trabalham com humildade, de forma serena, caritativa e gratuita; espíritos bondosos que não fazem distinção de raça, cor ou religião, e acolhem todos que buscam amparo e auxílio espiritual, conforto para dores, aflições e desequilíbrios das mais variadas ordens.

A Umbanda convida o homem a se transformar. Assim sendo, o consulente recebe esclarecimento sobre sua real condição de espírito imortal, ou seja, é levado a entender que é o único responsável pelas próprias escolhas, e que deve procurar progredir na escala evolutiva da vida, superando a si mesmo. Mas para transformar- se é preciso estar pronto para compreender as energias que serão manipuladas, porque elas trabalham com o ritmo interno. Ouvir a intuição é, portanto, ouvir a si próprio; é saber utilizar os recursos necessários que estão disponíveis para efetuar a mudança do estado de consciência.

Por isso, transformar significa reverter o apego em desapego, as faltas em fartura, a ingratidão e o ressentimento em perdão.. É não revidar o mal, mas sempre praticar o bem.

Dar sem esperar reconhecimento ou gratidão. A beleza da vida está justamente na “individualidade” , no ser único, criado por Deus para amar. E este ser único está ligado à coletividade pelos laços do coração e da evolução, a fim de aprender a compartilhar, respeitar, educar e ser feliz.

Somos o somatório dos nossos atos de ontem: por ter cometido inúmeros excessos, estamos conhecendo a escassez, ou melhor, sempre atuamos à margem, não conseguindo nos equilibrar no caminho reto, pois o processo de evolução é lento, não dá saltos, respeita o livre arbítrio, o grau de consciência e o merecimento de cada um.

A Umbanda pratica o Jesus consolador, e, silenciosamente, vai evangelizando pelo Brasil afora, levando Suas máximas: “A água mais límpida é a que corre no centro do rio, pois as margens sempre contêm impurezas”. “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si mesmo”, pois Ele nos envia o Seu amor incondicional, que não impõe condições, porque não julga, não cobra, apenas Se doa e espera pelo nosso despertar para as verdades espirituais, para o homem de bem que existe dentro de cada um de nós.

Quando Jesus se aproximou de João Batista, que, com os joelhos encobertos pela água do Rio Jordão, mais uma vez falava do Messias, ao olharem-se um ao outro, uma força poderosa instalou-se sobre todos os circunstantes. Jesus então aproximou-Se de João Batista, e este ajoelhou-se aos pés do cordeiro de Cristo. Mansamente Ele o levantou e agachou-Se sinalizando para que João O batizasse. Nesse instante único, vibraram intensamente sobre Jesus, no centro do seu chacra coronário, o Cristo Cósmico e todos os Orixás. Foi preciso que o Messias fosse “iniciado” por um mestre do amor na Terra, para que se completasse Sua união com o Pai, e ambos fossem um. Esse é um dos quadros históricos mais expressivos e simbólicos que avalizam os amacis na Umbanda.

Texto extraído do livro “Umbanda Pé no Chão – Um guia de estudos orientados pelo espírito Ramatís ( Editora Conhecimento) - recebido por e-mail enviado em 18/03/2009 por Mãe Vanessa Cabral - Dirigente do Templo Universalista Pena Branca (Filiada da T.U.Caboclo Pery)